Kátia Maria Kasper*

O texto a seguir é uma pequena antecipação, o anúncio de um artigo para o próximo número de Alegrar, tratando de experimentações clownescas, conforme concebidas em nossa tese de doutorado.

Partindo da participação como “observadora” em um processo de iniciação ao clown pessoal, do Lume – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da UNICAMP -, esta pesquisa, além de abordar aspectos históricos e trajetórias de alguns palhaços contemporâneos, analisa o papel político do palhaço, poderoso aliado na construção de possibilidades de vida. Diferentemente de um personagem, o clown opera com uma lógica própria, envolvendo modos de agir, pensar, sentir singulares. Através de uma abordagem transversal, inspirada também em aspectos da filosofia deleuzeana da diferença, exploramos a criação dos corpos clownescos, os quais, nessa arte, são os grandes diferenciadores. O corpo clownesco, que ultrapassa uma forma desenhada pelo figurino e a maquiagem, compreendendo um “feixe de impulsos”, um corpo preparado para “pensar em movimento”, aberto para a alteridade, nos possibilita outras apreensões das relações entre corpo e pensamento. Corpo criado na experimentação, exposto, disponível para o jogo.

Puccetti

Várias vozes são convocadas a compor este agenciamento coletivo, colocando os leitores entre os clowns. Com Espinosa, recupera-se o sentido político da alegria, definida como potência de afetar e ser afetado, oposta às paixões tristes -como o ressentimento e a culpa-, as quais nos separam de nossa potência. As paixões tristes são o flanco através do qual o poder nos toma, nos paralisa, roubando nossa potência de agir e nossa capacidade de sermos afetados. A alegria, ao contrário, religa-nos à nossa potência. O riso implica intensidade. A intensidade nos toma e nos faz sentir de outro modo.

 

 

*Kátia Maria Kasper é doutora na área de Educação, Sociedade, Política e Cultura, pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, com a tese Experimentações clownescas: os palhaços e a criação de possibilidades de vida (financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP)