Escrever a leitura sem reconstituir a postura de um leitor ideal, mas inventando certa postura ao texto: afirmar a alegria por lermos “levantando a cabeça” – talvez espiando sobre o ombro de Roland Barthes (2004a, p. 26), traçando nosso próprio corpo que lê.

Em nossa Alegrar de nº 33, o tempo erra no texto, o texto erra no tempo e montamos nossa parada pela leitura imaginativa de modos utópicos (pois sonhados) de vida, de sensibilidade e de relações: assim lemos Práticas artísticas insurgentes no espaço público, de Rosane Preciosa, Sophia Raad e Vanessa Melo. Seguimos por Posso rir na escola?, de Luís Felipe Perinei, um texto que busca deitar as crenças moralistas para rir ao escrever um artigo ou mesmo assobiar. Em A importância da leitura e o papel da literatura infantil e infantojuvenil na formação do leitor, de Felipe Zuculin da Fonseca, encontramos a leitura entranhada na incomum tríade prazer, criticidade e eficácia. Já Alice Medrado, com sua Carta a Anne Carson, insiste na beleza de ser duas a nos puxar pelos braços… Arrastadas, vivemos uma espécie de festejo do Bumba-meu-boi na intenção de uma educação menor, visto que os Entrelaçamentos possíveis do festejo do Bumba-meu-boi como uma prática de educação menor – de Carolina Rodrigues de Souza e Diogo Inacio Dias – implicam experienciar processos de minoração. Como o cão que nos diz do desejo de escrever, estamos na Morada do número 1900 (O cão, o homem e a carroça), de Rosana Martins Pio, lendo O Armistício, de Sidney Barata de Aguiar.

Com tudo isso, traçamos as margens da revista com nossa impertinência de leitura, nosso “gesto do corpo” (Barthes, 2004b, p. 33). Que a leitura de Alegrar funcione como o “gesto feliz que permite colocar no traçado de uma palavra um pouco mais do que a simples intenção de comunicar” (Barthes, 2004c, p. 54).

Juliana Gisi, Kátia Maria Kasper, Marcos da Rocha Oliveira

Pela equipe editorial


Referências

BARTHES, Roland. Escrever a leitura. In: BARTHES, R. O rumor da língua. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004a, p. 26-29.

BARTHES, Roland. Da leitura. In: BARTHES, R. O rumor da língua. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004b, p. 30-42.

BARTHES, Roland. Concedamos a liberdade de traçar. In: BARTHES, R. O rumor da língua. Tradução de Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004c, p. 52-54.