Editorial 26

Kátia Kasper; Juliana Gisi

A revista Alegrar completa sua 26ª edição nesse dezembro de 2020. Esse número contém um dossiê produzido durante a pandemia, resposta a uma chamada pública lançada no início de junho. Recebemos proposições as mais diversas – vindas de diferentes lugares do Brasil e também de outros países – e desse vasto universo de propostas, selecionamos quarenta e quatro para compor o dossiê Composições em pandemia. Atravessamentos plurais e singulares, trazendo nesses tempos brutos, talvez um respiro. São artigos, ensaios, contos, crônicas, poemas, ensaios visuais, audiovisuais, sonoros, bordados, colagens, cartas, desenhos, pinturas. 

Essa edição é composta também por dois artigos de demanda contínua da revista. 

A extemporaneidade do Acompanhamento Terapêutico: Uma clínica transgressora, clandestina e contagiante, de Rodrigo de Oliveira Feitosa Vaz, envolve escutas, transgressões, contágios, “vidas lokas”. Pensando em uma linha feiticeira para a clínica de AT, traz para o texto modos de ser afetado por diversos acontecimentos, na construção dessa linha. Afirma uma ética do AT como política de amizade, a qual “supõe uma razão menor, uma gaia ciência alegre e encantada, uma pedagogia das encruzilhadas, uma epistemologia das macumbas que fica longe dos holofotes de manuais prescritivos de conduta”. Nessas aprendizagens por contágio, o texto é atravessado pelas táticas de estudantes secundaristas em ocupações das escolas em 2015 e 2016, especialmente a EE Diadema (antigo CEFAM) e revoltas estudantis no Chile. Atravessado pela jangada de Fernand Deligny em derivas por tantos lugares, dando passagem a estranhamentos, envolvendo uma preciosa atenção à alteridade, em modos de escuta, de presença, de criação. Sim: “São tempos de uma escuridão sem fim”. E também: “São tempos de uma delicadeza sem fim”.

Pelo não fechamento de uma escola pública de comunidade: políticas de otimização da rede estadual do Rio de Janeiro, de André Antunes Martins e Silvério Augusto Moura Soares de Souza, evidencia o potencial de luta pelo direito à educação, por meio de ações de jovens estudantes de uma comunidade escolar em Niterói, no combate travado resistindo ao fechamento de uma escola pública estadual do Rio de Janeiro. Desdobramento de um projeto extensionista, valendo-se também de registros dos estudantes, o texto reflete e contextualiza esse confronto acontecido em 2017, “a partir de duas matrizes epistemológicas representadas pela conceituação do comum (NEGRI; HARDT, 2016) e pela natureza concreta da subjetividade das interações relacionais (BARATA MOURA, 1997)”.

Nessa edição inauguramos uma nova parceria, com um suplemento: a 2ª edição da Revista Pausa na Rede: expressões artísticas em tempos de quarentena. A revista, organizada por Amanda Leite, Renata Ferreira da Silva, Ricardo Ribeiro Malveira e Suiá Omim – artistas e docentes da Universidade Federal de Tocantins. Essa edição da Pausa na Rede 2 conta com colaborações de diversas regiões do Brasil e de outros países, produzidas no processo pandêmico. Conforme afirma a apresentação dessa segunda edição, “arte para seguir em direção à vida e lembrar que a rede humana se faz no entrelaçar de sonhos, no entremeio das pausas, no incitar de um novo respirar”.

Desejamos potentes leituras, soprando, talvez, novos ares.