Nessa 24ª edição, a revista Alegrar compõe-se de produções diversas, atravessando artes, filosofias, cidades, arquiteturas, literaturas, subjetividades, educações. Busca proliferar possibilidades de criação e resistência, em conversações transversais. 

Andre Pietsch Lima e Andréa Maria Fedeger propõem a composição in-ter- ações: (des)ocupações entre texto e imagem. Criada em uma oficina intergeracional de um projeto de extensão universitária, da Universidade Federal do Paraná, coordenada pelos autores, envolvendo um passeio ao Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Imagens entre textos, “disparadas pelo livro ‘40 Clicks em Curitiba’ do escritor Paulo Leminski e do fotógrafo Jack Pires.” 

Em O sonho na concepção da imagem errante, Marina dos Reis, aborda as imagens oníricas, propondo que pensemos uma sonhografia: “método de acesso a espaços no pensamento quando ele passa a usar essas imagens na feitura sonhográfica.” Educação entre sonhos e a atenção ao perigo de se estar sonhando o sonho alheio. Para a autora, a desterritorialização imagética transvalora “as imagens dogmáticas do pensamento para um território onde um estilo poético passa a pensar como um tipo de trabalho de sonho.” 

Rasga a carne, de Adriana Maimone Aguillar, escrita de vida ardida, carregando pedras. E, então, efeitos de rasgar uma carne endurecida, carne que se abre em dança e alegria.

Em Nuvens, Andre Pietsch Lima e Andréa Maria Fedeger narram uma história, nas inconstâncias de um fim de tarde de outono, com a senhora Nena, o senhor Carmelo e o jovem Gio.

A série de desenhos Um outro (Deborah Bruel – 2010) apresentada aqui é fruto de um interesse da artista pelo espaço e pela arquitetura. Interesse que aparece na sua produção gráfica, mas também em suas instalações, pesquisa sobre disrupções espaciais na virtualidade de sua modificação, maleabilidade, ilusão, truque, distensão. Deborah brinca com o espaço, entortando paredes, acrescentando próteses inúteis, criando espaços moles ou em falso, como se a arquitetura fosse um corpo manipulável e temporário: aqui, com uma linha leve e precisa, como uma anotação de vislumbres da pulsação do espaço vivo. 

Mergulho, série de desenhos de Luiz Rodolfo Annes, de 2006, é muito significativa dentro da produção do artista, com intenso interesse pelo desenho e pela construção narrativa. A linha que constrói o entorno e os personagens masculinos que protagonizam os desenhos é dura e áspera, e contribui para caracterização destas figuras quase míticas e primitivas. Corpos que se desmancham no espaço, são soterrados por ele, que se fundem com as coisas, que se camuflam e se assustam. 

O ensaio fotográfico Outro lado da rua, de Thalita Sejanes, nos apresenta um olhar que erra pelo espaço da cidade, que captura palavras específicas em lugares aleatórios e compõe com elas, abrindo suas acepções e deslocando-as para além de sua função primeira. Expondo estas palavras entre aspas, transforma-as em slogans que pulsam de uma foto para a próxima, como uma frase cujos sentidos se derramam, coagulando aqui e ali. 

A série Mulheres de desenhos de Juliana Gisi é um recorte de uma produção que vem se desenvolvendo desde a década de 1990. Esses pequenos corpos femininos são distendidos, torcidos e retorcidos, tensionados e dobrados numa anatomia impossível. Como uma anotação das sensações que experimentamos na lida da vida diária e que nos produzem deformações instantâneas e efêmeras, os desenhos se acumulam como flashes de estados internos. 

Boa leitura! 

Kátia Kasper e Juliana Gisi