Editorial 21
A revista Alegrar chega ao número 21 com produções diversas. Proliferando possibilidades de criação e resistência, em conversações transversais.
Por uma trans inter nacional intensiva, eis um grito lançado por Luiz B. L. Orlandi, que reverberamos com a Alegrar. Luiz Orlandi, em sua palestra na 11° Conferência Internacional Deleuze-Guattari: “Microrrevoluções e políticas e desejo: máquinas de guerra contra fascismos” pergunta: “do cipoal das intersecções de multiplicidades que compõem o dinamismo da minha realidade, que posso fazer por uma trans inter nacional intensiva de lutas minoritárias?” E convida às composições singularizantes: “As potencializadoras alianças com a vida nos dão uma alegria criativa. São as intensificações vitais e criativas as que buscamos experimentar nos encontros das diferenças que nos singularizam. São elas que nos dão uma alegria extremamente interessante, a alegria que também nos dá o que pensar.”
No artigo Socratismo como um fenômeno de oposição à tragédia grega: uma nota de estudo acompanhamos, com Maria dos Remédios de Brito, uma leitura da conferência de Nietzsche “Sócrates e a Tragédia” (1870). A autora aponta que “os estudos de Nietzsche a respeito da tragédia grega não foram só para destacar o declínio da mesma por meio de Eurípides e do socratismo, mas também para mostrar que o passado não morreu, e ele, assim, atualiza sua época apontando os efeitos da razão gestada na antiguidade e, com ela, suas ressonâncias na cultura moderna.”
Em À escuta da sala de aula, um percurso entre flores e filosofia, Paula Chieffi narra um acontecimento presenciado durante o acompanhamento de aulas de filosofia do Ensino Médio, em uma escola estadual em São Paulo, percorrendo seus efeitos, atenta ao que escuta e pode ser produzido em sala de aula. Prática pensada como extravagância (DIDI-HUBERMAN, 2003) alinhavando-se ainda a repercussões do que se mostra vago (Deligny, 2015) “– incerto e indeterminado –, no sentido do acompanhamento das aulas se configurar como uma possibilidade de exercício do estado de escuta, o que marca uma atitude precisa, porém sem um desfecho pré-determinado; um percurso singular ou extravagante, pois de alguém que anda fora de seu lugar e propõe uma interferência da escuta clínica no campo escolar.” O que se ouve na escola? Como afinar uma escuta que acolha singularidades?
“Parto da palavra”: uma vídeo-carta (não) filosófica – surpreendente experimentação de Maruzia Dultra, costurando pele-pensamento e mais…
Alexandra Domingues e Róger Luiz Albernaz de Araújo nos trazem um conto, cuja personagem apresenta múltiplas facetas, correspondentes a diversas coleções, de vidros vazios, roupas vermelhas, ou discos de cantoras americanas com ascendência africana que cantam jazz e blues. Sabemos ainda de outros traços seus, como evaporar em alguns dias da semana, gostar da solidão e escolher cuidadosamente suas companhias. Para conhecer essa personagem e os efeitos do seu encontro com Bartleby, basta ler GATO, RELÓGIO, ALICE, BURACO, CHAPÉUS, CLARICE, BUARQUE, COELHO, CARTOLA, BATIDAS, CHUVISCOS, SUSPIROS, VIRGÍNIA, CHÁ, XÍCARA E BULE, AMÉLIE. TUDO UNIDO? DÁ-SE INÍCIO À ESCUTA DOS BARULHOS.
Em O Vazio Amanhece Adriana Maimone Aguillar pergunta pelo vazio, pelo lugar do vazio, pelo deslugar, pelos territórios do eu, ao mesmo tempo em que os desfaz, deserta.
No artigo Cartografias do agenciamento coletivo de enunciação Felipe Melo ou ecos de “cornetadas” com Alberto Helena Júnior (e Félix Guattari) sobre futebol, volantes e fascismo em tempos cabulosos Altieres Edemar Frei cartografa o arranjo discursivo engendrado pelo futebolista Felipe Melo, pensando-o como “um agenciamento coletivo de enunciação dos discursos de intolerância, ódio e mesmo fascismo presentes em tempos de polarização de opiniões na contemporaneidade brasileira, e, portanto, tema caro à discussão sobre políticas de subjetivação.” Tais arranjos apresentam indícios e pistas de algo que ultrapassa o acontecimento-futebol.
A cidade vista pelos pés ou sobre modos de pesquisa andarilhos, viagem de Renata Ferreira da Silva pela cidade onde habita, Palmas, Tocantins. Deslocamento entendido como um modo de estudo. Caminhar: modo de pesquisar, viver a cidade. E também modos andarilhos de habitar e pensar o espaço.
À Hepathya, um poema de Alessandra Figueiró Thornton, inspirado no filme Alexandria, cuja personagem que dá título ao poema era professora, astrônoma e filósofa. Escreve entre “geométricas formas de eras passadas”, revelando vozes de uma biblioteca perdida. Abrem-se as portas e ecoam as “teorias caladas por crenças herméticas”.
Kátia Maria Kasper e Juliana Gisi