Editorial

Na rua | Em movimento

[o incalculável da política]

Para o número 12 da Revista Alegrar, convidamos Ana Godoy para compor um dossiê em torno dos movimentos que tomaram as ruas do mundo e do Brasil, desde junho de 2013. Não buscávamos, nem as editoras da revista, nem a editora do dossiê, nem os produtores dos textos, vídeos e ensaios fotográficos que ora apresentamos, respostas a respeito do futuro das manifestações. Já se fez nítido que elas compõem um mosaico de frentes de luta locais, não totalizáveis sob a égide de um ideal unificador. A aposta do dossiê coletivo Na rua | Em movimento talvez seja a de captar as forças acionadas nos múltiplos encontros e embates recentes de modo a problematizá-las como acontecimentos, ou momentos de uma micro-política dos afetos. Algo se passou, algo está acontecendo e quisemos reunir aqui elementos para ajudar a pensar e sentir as diferenças produzidas nessas ocasiões e, quem sabe, também proliferá-las.

Kátia Kasper e Cíntia Vieira da Silva.

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O inabarcável da rua em movimento – uma apresentação

Essa história começa ao rés do chão, com passos.

Michel de Certeau

Faz algum tempo Roberto da Matta disse que se não se quer perder de vista as relações sociais e seus paradoxos não se “pode construir casamatas, mas apenas cabanas, barracos e choças. Moradas feitas de espaços abertos”[1], destinadas ao encontro naquelas “conversações onde se ama o que se fala”.

A lembrança deste pequeno trecho tem muito a ver com o modo pelo qual este número foi organizado, com aqueles que dele participam e como o fazem e com o que, ao final, é oferecido ao leitor da Revista Alegrar.

Pois bem, em julho de 2013, recebi o generoso convite para organizar este número da revista tendo como eixo o movimento que tomou as ruas no mundo e mais especialmente no Brasil, desde junho. Movida pela euforia, e também por certa fúria, ambas decorrentes das então recentes experiências paulistanas na rua, aceitei sem nem pestanejar. Mas à medida que os dias passavam e que tanto as ruas quanto a rede experimentavam embates, flutuações, redirecionamentos, me ocorreu toda sorte de pensamento: que o mundo era muito grande… que o Brasil era uma enormidade… que o movimento tinha uma amplitude difícil de abarcar…. que não faltariam livros, revistas e especialistas debruçando-se sobre ele, coisa que sem dúvida fariam muito melhor do que eu… Ocorreu-me ainda que, entre julho e dezembro, mês em que este número seria publicado, muita coisa aconteceria, e o número em questão poderia facilmente ser derrotado por aquilo que pretendia abordar: o movimento. [Continuar lendo…]

Ana Godoy

Cientista social independente | Pesquisadora no GEPAn (UFPB).