A revista Alegrar número 4 busca proliferar e multiplicar encontros, assim como nos números anteriores. Nesse encontro entre heterogêneos, vibra a procura por acontecimentos notáveis, ainda que sutis, capazes de sinalizar a irrupção do novo.

Auto-retratos, fotografias digitais de Juliana Gisi.

Isso não é um cocô, vídeo de uma intervenção urbana feita por um coletivo em Blumenau (Santa Catarina), seguido de Isso não é um artigo – impressões em torno do impacto produzido por tal intervenção. Ernesto Silva fala do caráter coletivo da intervenção, contrapondo-o ao que diagnostica como uma tendência contemporânea à privatização (no sentido de posse individual e no sentido de se tornar depósito de dejetos). Além deste texto, temos o comentário publicado no Jornal de Santa Catarina (Protesto na Ponte), criticando a ausência de autoria e o contra comentário de Ernesto Silva no mesmo jornal (Santa dia 12).

A escrita nômade de Clarice Lispector de Maria Helena Falcão Vasconcelos – coloca em ressonância a filosofia de Gilles Deleuze com a “escrita pensante” de Clarice Lispector, notadamente em Água viva. Um primeiro ponto vibrante nesta ressonância é a figura do escritor como animal à espreita, entendida como abertura ao novo, ao notável. Tal atitude de espreita se configura num modo de pensamento nômade ou, nos termos de Clarice Lispector, perplexidade.

A potência do humor e do riso na escola – de Sérgio Andrés Lulkin levanta questões a respeito das distintas modalidades do riso e da maneira como elas podem se tornar agregadoras ou conectivas na escola.  Tais questões foram surgindo ao longo de uma pesquisa realizada durante dois anos em escolas de Porto Alegre e Barcelona.

Experimentações estético-políticas: do corpo condenado ao corpo liberado, a vida como matéria estética – aos poderes que se exercem sobre o corpo para padronizar as

subjetividades, as autoras (Ana Godoy, Joana Ferraz, Juliana Ferreira, Jussara Belchior), em conexão com o pensamento de Deleuze e Foucault, opõem uma potência inventiva do corpo. Tal potência torna possível experimentar subjetivações rebeldes a qualquer instância normativa. Neste percurso, o grupo de autoras encontra os trabalhos de Roberto Juarroz, em poesia, de Pina Bausch, na dança, e de Sinval Garcia, no teatro.

O mundo grita – poema assinado por Maria de Não Sei o Que. Conecta-se com os demais trabalhos deste quarto número de Alegrar na medida em que se pode compreender um grito como sendo a explicitação de um problema.

Verbos irregulares – mural-poema marcando os 30 anos do golpe militar na Argentina, traduzido por Damian Kraus. Colocamos o endereço de um blog em torno da feitura do mural e da alegria envolvida nesta produção coletiva, alegria paradoxal por envolver a rememoração de eventos dolorosos da história do país e das vidas de tantos. Tal mural-poema é acompanhado por: O filete portenho de Jorge Molina,  – Damian Kraus convida-nos a seguir o movimento das imagens produzidas por Molina por meio da técnica do filete. Mostra-nos ainda como tais imagens trazem a marca do tipo de temporalidade envolvida em sua produção.

Cíntia Vieira da Silva e Kátia Maria Kasper