Graphias, uma experiência: memória e fragmento

Márcia Cattoi Schmidt; Gerusa Morgana Bloss; Dilma Beatriz Rocha Juliano; Rosi Isabel Bergamaschi Chraim

Resumo

Este texto se compôs no decurso de uma experiência de leitura e escrita, realizada virtualmente durante um período de isolamento, como uma forma de ‘estar em companhia’. O trabalho aconteceu com leituras e discussões apoiadas em alguns autores, em especial, Walter Benjamin, Sigmund Freud, Maria Gabriela Llansol, Maurice Blanchot, Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben, entre outros; configurando-se em torno das noções de sujeito, escrita, experiência, memória e fragmento. O viés ficcional que perpassa o texto é fruto dos afetamentos singulares com a leitura e marca uma experiência de encontro, reminiscência e criação. As produções pretendem deslegitimar as posições de palavras designadas a informar; elas, aqui, propõem, no próprio ato de escrita, desregular e reconfigurar o que se pode partilhar de experiência e de memória, naquilo que nos é mais próprio – nos fragmentos e nas imagens-pensamento. Propomos, também, interrogar as formas de registro e sua relação com a transmissão do conhecimento produzido nas ditas ciências humanas e dentro dessas mais particularmente na literatura, na arte e na psicanálise.
Palavras-chave: Graphias; escrita; experiência; memória; fragmento.

Abstract

This text came up in the course of an experience of reading and writing, carried out online during a period of isolation, as a way to ‘be in a company’.  The work was carried out as readings and debates based on some authors, particularly Walter Benjamin, Sigmund Freud, Maria Gabriela Llansol, Maurice Blanchot, Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben among others; configuring around the notions of subject, writing, experience, memory and fragment. The fictional bias that runs through the whole text is reaped from the singular influences generated by the reading, and marks an experience of encounter, reminiscence and creation. These productions, transcribed here, are meant to delegitimize the position of words designated to inform; they propose, herewith, in the very act of writing, to deregulate and reconfigure what can be shared in experience and memory, in which is our very own — in fragments and images-thoughts. We also propose to interrogate the forms of registration, and their relationship with the transmission of knowledge produced by the so-called human sciences and, among them, particularly in literature, in art and in psychoanalysis.
Keywords: Graphias; writing; experience; memory; fragment.

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