Das cartas trazidas pelas asas de um uirapuru: o que inventam e sustentam corpos em tensão na potência-resistência-arte-alegria-luta?

André Rodrigues; Paula Bertoluci Alves Pereira; Valéria Monteiro Mendes; Laura Camargo Macruz Feuerwerker

Resumo

Entre o isolamento e as aberturas que este momento de pandemia tem nos proporcionado, e exigido, fomos ativadas pela questão: Como temos vivido em tempos de pandemia? Várias seriam as respostas e modos possíveis de tratar dessa questão. Selecionamos um modo em processo em nós, que diz das disputas e apostas éticas, estéticas e políticas que se conectam a modos singulares de produzir conhecimento e a vida, com os quais temos nos ocupado. As cartas-narrativas que se seguem foram escritas e reescritas em diferentes e em muitos momentos - não por acaso, não são datadas. E também com diferentes modos de habitar a temporalidade e a ancestralidade de cada corpa(o) que tece, através da escrita, uma escritura, que faz da palavra e da comunicabilidade, ato poético-político e também matéria essencial para produzir vida, o cuidado de si e o coletivo. Como será possível notar, as cartas tratam de conexões poéticas, afetivas e dos modos como cada uma tem se implicado com o pensamento e com a fabricação de saídas no fronte e nos “bastidores” do cenário necropolítico e pandêmico atual. Pousamos nossa atenção nas asas e nos cantos do uirapuru e de Sankofa, de modo a habitar, no presente, movências conectadas aos modos singulares de produzir as existências afrodiaspóricas, indígenas e afroindígenas, de modo que as forças ancestrais de ontem e de hoje, desses povos, que há séculos vivem e inventam singularmente maneiras de resistir a violência pandêmica em solo nacional. Neste escrito, trocamos cartas-narrativas a partir da questão apresentada de início. As conexões entre as cartas dizem das trocas e apostas que temos produzido juntos há cerca de três anos e que se atualizam neste momento atravessado pelo isolamento, pela pandemia e, sobretudo, pelos modos como temos nos implicado em continuar abrindo espaços para produção e afirmação da vida.  

Abstract

Between the isolation and the openings that this pandemic moment has provided, and demanded, we were activated by the question: How have we lived in times of pandemic? There are several answers and possible ways to deal with this question. We have selected an in-process mode in us, which speaks of the ethical, aesthetic and political disputes and bets that connect to unique ways of producing knowledge and life, with which we have been engaged. The following narrative letters were written and rewritten at different times and in many ways - not by chance, they are not dated. And also with different ways of inhabiting the temporality and ancestry of each body (o) that weaves, through writing, a scripture, which makes the word and communicability, a poetic-political act and also an essential material to produce life, care of themselves and the collective. As it will be possible to notice, the letters deal with poetic, affective connections and the ways in which each one has been involved with the thinking and the manufacture of exits in the front and in the “backstage” of the current necropolitical and pandemic scenario. We focus our attention on the wings and corners of the uirapuru and Sankofa, in order to inhabit, in the present, movements connected to the singular ways of producing the aphrodiasporic, indigenous and afro-indigenous existences, so that the ancestral forces of yesterday and today, of these peoples, who for centuries have lived and invented singular ways of resisting pandemic violence on national soil. In this writing, we exchange narrative letters from the question presented at the beginning. The connections between the letters refer to the exchanges and bets that we have produced together for about three years and that are being updated in this moment, crossed by isolation, the pandemic and, above all, by the ways in which we have been involved in continuing to open spaces for production and life.

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Referências

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