A covid, uma experiência

Tiago Amaral Sales

Resumo

Este texto consiste em narrativas poético-visuais, entretecendo escritas com imagens manipuladas digitalmente, rizomadas na criação de um diário-arquivo dos atravessamentos vividos durante a experiência do adoecimento pela covid-19. O corpo, as pílulas, os olhares entre-janelas, o céu, o desejo, a vida lá fora e a vida aqui dentro compõem poéticas dos encontros possíveis. O título é inspirado no livro A doença, uma experiência, de Jean-Claude Bernardet (1996). Nos dias de adoecimento, muito foi vivido, mesmo, felizmente, tendo apenas sintomas tidos como leves. Algo que ajudou a viver e atravessar os encontros entre humano e vírus foi escrever despretensiosamente algumas poesias, e fazer registros fotográficos com o celular. A covid, uma experiência foi escrita ao longo de todos os dias de isolamento, revisitando-os, e compartilhada inicialmente no décimo dia de sintomas, como forma de jogar aos outros os múltiplos atravessamentos que transbordavam, e dizer ao mundo: “pode me abraçar sem medo”, livre e leve, como na música Final Feliz de Jorge Vercilo. Os registros fotográficos de tais dias foram posteriormente trabalhados. Já era sabido que sair do isolamento, assim como ter tomado as três doses da vacina antes da infecção, não acabaria com o caos pandêmico: ele permaneceria em movimento, tanto nos contágios, adoecimentos e mortes, quanto nos lutos que continuavam ressoando. Mas, um sopro de vida – como intitulou algumas das últimas escritas de Clarice Lispector (1978) – foi demandado nos momentos de medo e dor. Respirar, tomar as pílulas necessárias, cuidar de si e do outro, ter coragem para atravessar. Escrever. Fotografar. Seguir respirando. 
Palavras-chave: Poética; Covid-19; Corpo; Vida. 

The covid, one experience

Abstract

This text consists of poetic-visual narratives, interweaving writings with digitally manipulated images, rhizomed in the creation of an archival diary of the crossings lived during the experience of illness by covid-19. The body, the pills, the looks between the windows, the sky, the desire, the life outside and the life inside compose the poetics of possible encounters. The title is inspired by the book The disease, an experience, by Jean-Claude Bernardet (1996). In the days of illness, much was experienced, even, fortunately, with only mild symptoms. Something that helped to live and go through the encounters between human and virus was to unpretentiously write some poetry, and make photographic records with the cell phone. The covid, an experience was written throughout all the days of isolation, revisiting them, and initially shared on the tenth day of symptoms, as a way of playing to others the multiple crossings that overflowed, and saying to the world: “you can hug me without fear”, free and light, as in the song Final Feliz by Jorge Vercilo. Photographic records of those days were later worked on. It was already known that coming out of isolation, as well as having taken the three doses of the vaccine before infection, would not end the pandemic chaos: it would remain in motion, both in contagions, illness and deaths, and in the mourning that continued to resonate. But a breath of life – as was called some of Clarice Lispector's last writings (1978) – was demanded in moments of fear and pain. Breathe, take the necessary pills, take care of yourself and the other, have the courage to cross. Write. Photograph. Keep breathing.
Key-words: Poetic; Covid-19; Body; Life. 

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Referências

BERNARDET,  Jean-Claude. A doença, uma experiência. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
 
COCCIA, Emanuele. Metamorfoses. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2020.
 
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